No Brasil, segundo pesquisa realizada pelo ICTQ – Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico, em 2018, 79% das pessoas com mais de 16 anos admitiam tomar medicamentos sem prescrição médica ou farmacêutica. Este percentual cresceu desde de 2014, quando os números diziam que 76,2% se automedicavam, e em 2016, 72%. Ainda de acordo com o estudo, o imediatismo e o maior acesso à internet estão entre os motivos para o aumento nos números.
Recente levantamento realizado pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), corrobora esses dados. O estudo mostrou que os medicamentos são a principal causa de intoxicação no Brasil. Entre 2012 e 2017, foram 241.967 casos, ou seja, 40% do total de 590.594. Isso significa que há, pelo menos, três vítimas a cada hora, sendo as crianças as mais afetadas.
“A automedicação, por exemplo, fica em quinto lugar entre as principais circunstâncias de intoxicação por medicamentos. É importante observar que as pessoas têm vergonha em admitir que sua intoxicação foi decorrente de tomar medicamento sem orientação. Preferem afirmar que se tratou de um acidente”, revela a pesquisadora, e doutora em Saúde Pública e coordenadora do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), Rosany Bochner, em recente entrevista ao Portal do ICTQ.
Já o coordenador de saúde da Coordenadoria de Assistência Farmacêutica do Estado de São Paulo, Victor Hugo Costa Travassos da Rosa, reforça que o paciente deve sempre procurar uma orientação antes de tomar qualquer medicação.
“A automedicação pode levar até a morte. Consumir um medicamento sem orientação médica ou farmacêutica é uma atitude perigosa. A pessoa deve sempre procurar se informar com médicos ou farmacêuticos. Veja, se voltarmos no tempo, quem fazia esse papel de orientar os pacientes eram os farmacêuticos. Sempre tinha aquela farmácia do bairro, que era mais próxima de casa, que desempenhava essa função. Todo cidadão no Brasil, toda família, tinha aquele farmacêutico de confiança. Infelizmente, nós perdemos um pouco dessa cultura, isso foi ruim, porque, em muitas situações, não tem um médico em toda esquina para ajudar”, afirma.
Rosa ainda complementa: “Eu costumo dizer que, às vezes, a farmácia é o último reduto para orientar ou dar um alento terapêutico ao paciente. Sendo que uma simples orientação pode fazer toda a diferença, o profissional [farmacêutico] pode te dizer ‘olha, não toma isso’. Os pacientes, em muitos casos, não sabem o quanto a automedicação pode ser ruim para a saúde”, enfatiza.
O coordenador ainda exemplifica com circunstâncias em que o farmacêutico pode passar no cotidiano com pacientes que fizeram uso da automedicação. “Tem situações que os pacientes podem chegar e relatar uma determinada urticária, por exemplo. Veja, no passado, era comum casos de choque anafilático, por causa de aplicação de injeções à base de penicilina. Se a pessoa vai tomar uma benzetacil, ela precisa fazer um teste. É papel do farmacêutico checar isso. Em última hipótese, ele precisa estar até preparado para prestar os primeiros socorros para o paciente em uma crise anafilática”, orienta.
Por fim, Rosa completa: “São esses tipos de cuidados que não ocorrem com a automedicação, o paciente toma porque o amigo indicou. O papel dos farmacêuticos é aconselhar, orientar. Sou filho de farmacêutico, vim do interior, graças ao meu pai, muita gente não morreu na cidade em que eu nasci e vive durante minha infância e adolescência”, encerra.
CMQV – imprensa
Matéria enviada por: Dra.Célia Wada