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15/07/2008 – STRESS ROUBA ENERGIA DAS PESSOAS E PARTE DO LUCRO DAS EMPRESAS
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15/07/2008 – STRESS ROUBA ENERGIA DAS PESSOAS E PARTE DO LUCRO DAS EMPRESAS

Stress rouba energia das pessoas e parte do lucro das empresas

Chamado de mal do mundo moderno, o problema está associado a doenças como enxaquecas, úlceras, hipertensão, ataques cardíacos, câncer, depressão e baixo desempenho tanto profissional, quanto sexual. Especialistas acreditam que o estilo de vida é um fator determinante para favorecer ou evitar o stress. De acordo com a Sociedade Americana do Stress, o problema custa às indústrias dos Estados Unidos cerca de US$ 300 bilhões por ano.

Considerado durante muito tempo doença, ou melhor, frescura de rico, o stress atinge hoje todas as classes sociais indiscriminadamente. Motivos para as pessoas estarem estressadas não faltam: medo de uma nova guerra mundial, alta do dólar, crise argentina, crise energética, retração econômica, desemprego, falta de dinheiro, violência urbana e para completar a seleção brasileira de futebol dando um vexame atrás do outro. Essa lista é infindável e daria para encher uma página inteira.

Mas, afinal, o que é o tal do stress? Como você vai saber se está estressado? Especialistas dizem que o stress é a resposta do organismo a estímulos e pressões internas e externas. É o modo como as pessoas reagem às mudanças. Quando alguém enfrenta situações estressantes o organismo dispara uma enxurrada de hormônios no sangue, que alteram o funcionamento de diversos órgãos. Depois de um episódio de stress, o corpo precisa de uma parada para recompor-se. Porém, no dia a dia isso não acontece, até que chega uma hora que o organismo não aguenta e entra em colapso. Os sintomas do stress não são difíceis de identificar. Se você vive cansado, quando chega do trabalho só pensa em cair na cama e desmaiar, não consegue mais cumprir suas tarefas profissionais, atrasa a entrega de relatórios; esquece de pagar a escola das crianças, as contas de luz e telefone, sente dor de estômago, de cabeça e nas costas, cuidado. Esses são alguns dos indicadores que você pode estar sendo tomado pelo stress.

Você não deve estar entendendo nada, afinal o que essa conversa está fazendo em uma revista industrial? Simples: chamado mal do mundo moderno, o stress está associado à maior parte das doenças físicas, emocionais e mentais. Diversos estudos comprovam sua ligação com enxaquecas, úlceras, crises nervosas, ataques cardíacos, câncer, depressão e baixo desempenho tanto profissional, quanto sexual. Médico, pós-graduado em Medicina do Trabalho, Mestrado pela Universidade de Paris e especialização em Corporate Wellness and Sports Medicine, pela Stanford University, dos Estados Unidos, Ricardo de Marchi é um dos estudiosos que endossam a tese de que o desempenho das empresas está intimamente ligado à disponibilidade física, emocional e mental de seus funcionários para levarem adiante os projetos e metas que lhe são propostos. Essa disposição, por sua vez, está associada ao nível de stress, auto-estima e qualidade de vida que esses profissionais possuem. ´A forma como você acorda interfere em seu rendimento, criatividade, produtividade e capacidade para trabalhar. ´.

O stress rouba não só a saúde, mas também uma parte significativa dos lucros das organizações. Para dar uma idéia melhor da gravidade da situação, nada melhor do que números. De acordo com a Sociedade Americana do Stress, o problema custa às indústrias dos Estados Unidos cerca de US$ 300 bilhões por ano. Nesse valor estão embutidos os gastos com absenteísmo, despesas médicas, paradas durante o trabalho, queda na qualidade e quantidade de produção, desperdício de materiais e suprimentos, atrasos na entrega de projetos, etc. Além disso, 70% dos acidentes industriais são decorrentes do stress: falta de atenção, cansaço, desmotivação. Segundo a entidade, 40% das pessoas pedem demissão ou são demitidas porque estão estressadas com o trabalho. Um turn over (rotatividade de pessoal) elevado acarreta custos para as organizações e não são poucos. A Xerox, por exemplo, estima gastar entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão para recolocar um executivo de primeiro escalão e entre US$ 2 mil e US$ 13 mil para um funcionário de nível médio. As estatísticas variam de uma entidade para outra, pois os métodos de medição são diferentes, mas não se pode negar que o quadro é preocupante. que providências preventivas e corretivas são necessárias.

ESTILO DE VIDA É A RESPOSTA

Diretora da consultoria Corporated & Personal Health – CPH, a psicóloga Rita Passos afirma que o estilo de vida, muitas vezes, contribui diretamente para o stress. ´Comer demais, ser sedentário, abusar do álcool e do café, pular refeições ou ´comer coxinha com relatório´ debruçado sobre o computador, dormir pouco e não se permitir momentos de descanso são comportamentos que favorecem o surgimento do stress ou interferem na capacidade individual de enfrentá-lo´.

Para reverter a situação, algumas empresas apostam em ações que incentivam a adoção de hábitos mais saudável. Fazem isso não porque são ´boazinhas´, mas sim porque já entenderam que este tipo de investimento traz benefícios para seus empregados, mas especialmente para elas mesmas. Estatísticas divulgadas pelo Journal of Occupational Medicine (Estados Unidos) comprovam que o tabagismo aumenta em 40% a taxa de absenteísmo, em 25% as despesas com saúde e em 114% o tempo de internação. Já o sedenta-rismo leva a um acréscimo de 36% nos gastos com saúde e de 54% no tempo de internação. Quando se trata de obesidade, as despesas médicas sobem 8% e o período de hospita-lização 85%. A CPH já desenvolveu programas de promoção de saúde e qualidade de vida para Alcoa, Banco Chase Manhattan, Bank Boston, Asphi (Philips), Cargill, Copel, Cia. Paranaense de Energia, Dow Química, DuPont do Brasil S/A, DuPont Elastomers, Ford do Brasil S/A, Gessy Lever, IBM, Krupp Metalúrgica, McDonald´s, Mebsa (Grupo Weg), Mercedez Benz, Renner DuPont, Robert Bosch do Brasil, Sabesprev e Tintas Coral (ICI).

Rita Passos afirma que estas companhias estão investindo na prevenção, preocupando-se antes que os problemas ocorram. Ela explica que o trabalho da CPH começa com um levantamento do perfil de saúde e qualidade de vida da população da empresa, feito por meio de questionários. Depois a consultoria elabora um programa personalizado de acordo com os aspectos encontrados: diabetes, obesidade, hipertensão, stress, sedentarismo. ´Projetos assim não fazem parte da nossa cultura empresarial, mas já são muito comuns no exterior. A maioria das empresas brasileiras ainda está na fase de proteger a saúde do trabalhador dentro da fábrica, levantar os riscos no local de trabalho, mas não têm noção da importância da qualidade de vida para os seus empregados ou, pior, acham que cumprem esse papel com palestras esporádicas. O cidadão vai ao auditório houve uma apresentação sobre hipertensão e mede a pressão na saída. Isso não é promover saúde. É necessário um trabalho contínuo e de longo prazo para haver conscientização´. Entretanto, Rita ressalta que saúde é uma responsabilidade individual. Ela alerta que o estilo de vida é responsável por 53% dos fatores que contribuem para que as pessoas ultrapassem a barreira dos 65 anos. Os antecedentes familiares e o ambiente no qual vivemos influenciam, mas os perigos podem ser minimizados com mudanças de hábitos. ´Até por volta dos 30 anos, os riscos são apenas potenciais. A partir daí, as possibilidades aumentam por conta do envelhecimento natural´, completa a psicóloga.

Um dos fatores reconhecidos de promoção de saúde e combate ao stress é a atividade física, mas é primordial procurar uma modalidade para ser exercida com prazer. ´Existem dois motores para motivação: eu posso/eu quero e eu devo/eu preciso. Se a pessoa optar pelo segundo não consegue manter o objetivo por muito tempo´, ressalta Rita.

A psicóloga argumenta que uma certa dose de stress pode até ser positivo, pois ajuda a atingir um nível de eficiência. Não é segredo, que muita gente trabalha melhor sob pressão, porém é fundamental relaxar quando o objetivo é alcançado. Esse comportamento resulta num aumento de reservas físicas e emocionais que serão usadas em outros desafios.

Rita faz questão de frisar que o ser humano precisa de pausas. ´Trabalhar concentrado por muito tempo não é produtivo. A parada para o café e cinco minutos de conversa com o companheiro de trabalho não é perda de tempo, mas forma de recuperar as energias e retomar as tarefas em melhores condições. É preciso ainda dormir bem, ter folgas no final de semana, lazer e férias.

PAE PRA TODA OBRA

O Programa de Assistência ao Empregado funciona como uma espécie de muro das lamentações para queixas dos empregados, atendendo questões jurídicas, psicológicas e psiquiátricas.

Nos últimos tempos, virou moda dentro das empresas falar em valorização do ser humano, mas quem de verdade pratica essa retórica? Quantas realmente fazem de seus funcionários seu maior patrimônio e preocupam-se não só com a valorização profissional, mas também com seu bem- estar físico e emocional? Não muitas, mas já existem organizações, quase todas multinacionais, buscando alternativas para garantir um empregado mais feliz, motivado e produtivo.

Afinal, quem não gostaria de trabalhar num lugar, onde pode falar de todos os seus problemas, angústias e dificuldades? Pode até dizer que o chefe é um carrasco, que está infeliz com o trabalho, que o filho está se envolvendo com drogas e que a mulher foi embora. Ah, tudo em uma conversa absolutamente confidencial.
Isso é possível em empresas, como Dupont do Brasil, Procter & Gamble, Alcoa, Credit Suisse e Archer Daniel Midland, que adotaram o Programa de Assistência ao Empregado – PAE. Desenvolvido pela consultoria Solutions Latin American, o PAE nasceu da filosofia de que os problemas pessoais afetam, e muito, o desempenho profissional. Segundo Miriam de Lemos Alves, uma das assistentes sociais da Solutions, que atendem aos usuários do PAE, existe uma linha 0800, que a pessoa liga e conta seu problema. É feita uma avaliação e num prazo máximo de três dias é dada uma resposta e/ou um encaminhamento para tentar solucionar o caso. Se houver ameaça de suicídio, o retorno tem que ser dado em meia hora. A empresa que contratou o programa da consultoria não tem acesso ao nome dos empregados, nem a quais tratamentos estão sendo submetidos, apenas recebe relatórios estatísticos e de tendências para saber quais assuntos precisam receber mais atenção e para elaborar medidas corretivas e preventivas. O programa funciona 24 horas por dia, inclusive nos finais de semana e feriados.
Miriam explica que a Solutions tem uma rede de assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras e advogados, que compõem a equipe de suporte ao programa. No PAE é voltado para atender funcionários e seus dependentes (cônjuge e filhos) em questões jurídicas, psicológicas e psiquiátricas, além de orientar na elaboração de um planejamento financeiro e orçamento familiar. O programa não oferece empréstimos, apenas auxilia a pessoa a tentar reorganizar suas finanças, aprendendo a viver com aquilo que ganha.

No aspecto psicológico, a primeira reclamação é stress, seguido de alcoolismo, uso de drogas, relacionamento conjugal e familiar, depressão e baixa auto-estima. ´Na verdade, é uma bola de neve. Não me relaciono bem com o meu grupo, estou infeliz no trabalho, estou estressado, bebo, aí brigo em casa, fico deprimido e assim vai. Uma coisa puxa a outra´. Para esses casos entram em ação psicólogos com especialização em terapia breve, cerca de seis a oito consultas, que procuram jogar uma luz no fim desse túnel, ajudar o indivíduo a sair desse momento de sufoco, agonia. Se o assunto for mais grave, é repassado para um psiquiatra. ´Normalmente, quando fechamos o contrato, a imensa maioria dos primeiros atendimentos são relacionados à parte jurídica: pensão alimentícia, divórcio, análise de contratos de aquisição de imóveis, inventários, etc. Depois de algum tempo, quando adquirem confiança no programa, é que começam a surgir outros problemas. O funcionários ainda temem pela confiabilidade. Querem ter certeza de que ninguém saberá o que eles contam´.

Segundo Miriam o público que procura o PAE é diversificado. Vai do diretor ao chão de fábrica, embora os executivos costumem ter uma posição mais defensiva, demorem mais para chegar. ´O alto escalão investe muito no lado profissional e acaba esquecendo do resto. Alguém que fica 14 , 16 horas fora de casa, atuando sob pressão e com elevado nível de stress tem grandes chan-ces de ter dificuldade, por exemplo, para se relacionar com filhos adolescentes. Os operários são mais humildes e pedem ajuda mais rápido´.

DUPONT

Com 850 empregados, divididos nas unidades de São Paulo, Uberaba (Minas Gerais), Barra Mansa (Rio de Janeiro) Paulínia (São Paulo), a Dupont do Brasil adotou o PAE em setembro do ano passado. Coordenadora do projeto na Dupont, Flavia Regina Zuanazzi, conta que a empresa já possui projetos semelhantes, em 25 países, há 40 anos. As estatísticas internacionais e do escritório da companhia nos Estados Unidos registram que, o serviço é usado, em média, por 15% de sua força de trabalho. Entretanto, nesse um ano de existência do programa na Dupont do Brasil cerca de 33% dos funcionários da empresa já utilizaram o PAE. Foram mais de 270 pessoas atendidas. Desse total, 50% procurou aconselhamento jurídico, especialmente nas áreas de direito de família, do consumidor e análise de contratos. Outros 40% buscaram ajuda psicológica. As queixas eram relacionadas ao stress, problemas de relacionamento e auto-estima. Houve também um número significativo de casos de depressão.

Para Flávia, o fato do índice de utilização do programa no Brasil estar acima da média internacional tem dois aspectos. ´O ponto negativo é que existiam muitas pessoas com problemas dentro da empresa, mas o lado bom é que estamos atendendo uma demanda existente que estava reprimida. O mais importante é que a confidencialidade do programa só pode ser quebrada em caso de ameaças de morte ou bomba. Felizmente, nos 40 anos em que Dupont tem estes programas, nunca houve uma ocorrência destas´, ressalta.Segundo a coordenadora, dos 273 usuários do PAE , 57% consideraram a iniciativa excelente; 41% boa, 2% regular e 1% fraco. Flávia explica que os 3% que acharam regular e fraco queriam que o advogado que eles consultaram assumisse a causa e tomasse todas as providências necessárias. Flávia explica que o programa é de apoio, não de transferência de responsabilidades. Numa outra avaliação, 94% dos usuários disseram que usariam o PAE novamente, se fosse preciso, e 96% recomendariam a outros funcionários e familiares.

De acordo com a experiência da Dupont no exterior, programas como o PAE melhoram a integração do funcionário com a companhia e o clima organizacional, aumentam a produtividade, , reduzem os gastos em saúde, além de diminuírem absenteísmo e turn over. Na prática, esses programas funcionam como uma válvula de escape para minimizar as preocupações dos funcionários com problemas pessoais e aliviar as tensões, possibilitando que eles possam trabalhar com menos stress.



Rosana Ferreira de Abreu é Jornalista Responsável e Editora chefe da MercoMetal

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