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06/02/2006 – A ARMADILHA DO LOCAL DE TRABALHO
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06/02/2006 – A ARMADILHA DO LOCAL DE TRABALHO

A armadilha do local de trabalho

A ergonomia ainda é vista como sinônimo de gastos por muitas empresas, que mantêm ambientes e rotinas inadequadas à saúde dos funcionários.

Os casos de doenças relacionadas ao trabalho começaram a se multiplicar no Brasil no final dos anos 80. A partir desse período, passou a se ter noção de que trabalhadores não necessariamente expostos a condições até então absolutamente claras de risco – como contato com produtos tóxicos ou agentes infecciosos – também estavam sujeitos a desenvolver problemas de saúde ligados a sua atividade profissional. Em 1990, O Ministério da Saúde editou a Norma Regulamentadora (NR) 17, que introduziu na legislação brasileira o conceito de ergonomia, ou seja, a organização do posto de trabalho de forma a não prejudicar o usuário. Uma década depois, porém, esse conceito não adquiriu a abrangência que deveria.

A consultora de ergonomia Rosane Kortz avalia que o tema ainda é algo recente para as empresas brasileiras são muitas vezes interpretado equivocadamente. Tão importante como adequar os postos de trabalho é organizar as rotinas para facilitar a execução das tarefas e diminuir a pressão sobre os funcionários. Práticas isoladas não surtem efeito se não estiverem inseridas dentro de um contexto mais amplo. De nada adianta o empregado fazer ginástica laboral, por exemplo, se, em seguida, retorna a um posto de trabalho em condições inadequadas. Rosane salienta que o ideal seria a construção dos ambientes de trabalho já dentro dos padrões ergonômicos, em lugar de improvisar uma adaptação posterior.

– Para a empresa, a implementação das melhorias ergonômicas resulta em maior produtividade e economia com despesas médicas ou ações judiciais – acrescenta.

Entre outras exigências, a NR 17 determina a utilização de móveis e equipamentos adequados e adaptáveis a diferentes tipos físicos de pessoas, além da realização de pausas a cada 50 minutos de trabalho repetitivo. A NR 17 cria basicamente mecanismos de prevenção às LER/Dort, reflexo da pressão feita por alguns segmentos – como os digitadores – mais claramente expostos aos efeitos de tarefas repetitivas. A norma também não prevê regras de proteção à saúde mental do trabalhador. Por isso, sindicatos e especialistas no assunto já discutem com o governo federal a revisão da NR 17.

A lista de problemas decorrentes das LER/Dort é extensa e variada. Podem ocorrer, entre outros distúrbios, fadigas neuromusculares, lombalgias, tendinites (inflamação dos tendões) e tenossinovites (inflamação da bainha dos tendões), principalmente em mãos, punhos, cotovelos e ombros. Em geral, esses distúrbios se manifestam na forma de dor, formigamento, dormência e fadiga precoce. A prevalência dessas lesões nas mulheres é maior devido à dupla jornada: muitas tarefas domésticas também exigem esforço repetitivo. Torcer roupa ou lavar louça podem ajudar a agravar os problemas gerados no ambiente de trabalho.

O tratamento dessas doenças não teve evolução significativa nos últimos anos. A terapia ainda passa por sessões de fisioterapia, técnicas de relaxamento e administração de drogas para reduzir a inflamação e a dor.

– Quanto mais tempo demorar para ser feito o diagnóstico, maior a probabilidade de o paciente ficar permanente incapacitado para exercer sua função – afirma médica do trabalho da Coordenadoria de Política de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador da Secretaria Estadual da Saúde (SF8), Virgínia Dapper.

O quadro se torna problemático porque é comuns os médicos enfrentarem dificuldades para relacionar os sintomas alegados pelo paciente com sua atividade profissional. Conforme Virgínia, além das LER/Dort é freqüente que um local de trabalho inadequado provoque o agravamento de doenças, como hipertensão ou asma, a quem é submetido a forte pressão e situações de estresse. Para tentar reduzir esse problema, a SES está desenvolvendo formas de capacitar os médicos da rede pública a realizarem um atendimento mais adequado ao problema.

O Ambiente Ideal

Cuidados com o local de trabalho para quem utiliza microcomputador:

A altura do monitor de vídeo deve estar, no máximo, na horizontal dos olhos, evitando sobrecarga para a musculatura da coluna cervical;

Para evitar reflexos na tela, o monitor deve ser posicionado de lado para as janelas. Caso o usuário esteja de frente para a janela, é recomendável o uso persianas que devem permanecer fechadas para evitar o ofuscamento da visão

O monitor deve poder ser movimentado para frente e para trás, a fim de adequar a posição da tela com a capacidade visual do usuário. A distância adequada entre os olhos e a tela é entre 45 e 70 centímetros

Os braços devem trabalhar na vertical para evitar contrações estáticas Os antebraços devem estar na horizontal e os punhos apoiados

Em trabalhos que exijam muita digitação, o teclado pode estar colocado sobre uma superfície mais baixa do que a mesa normal de trabalho, com regulagem de altura. Em trabalhos integrados de computador e escrita manual, o teclado pode ficar situado sobre uma mesa normal. Em qualquer caso, o usuário deve poder colocar o teclado um pouco mais para frente ou um pouco mais para trás

Nos trabalhos que exijam a transposição de dados de um documento para o computador é imprescindível a utilização de um suporte para o texto, para evitar sobrecarga nos músculos da coluna cervical. O suporte deve ser leve, facilmente adaptável entre o teclado e o monitor, com régua para acompanhar a leitura do documento a ser copiado.

Os pés devem estar bem apoiados no chão. Para os de estatura mais baixa, é recomendável um apoio portátil para os pés com altura regulável e largo o suficiente para acomodar os dois pés (30 centímetros por 40 centímetros). A inclinação é opcional. Se existir, não deve ser maior do que 30 graus e sua superfície superior devem ser feitos de material antiderrapante

Deve haver espaço suficiente para as pernas debaixo da mesa ou posto de trabalho. A presença de caixas, suportes e gavetas sob a mesa devem ser evitados para não pressionar as pernas.

Sem medo de mudar

Enquanto algumas empresas preferem ignorar as complicações provocadas por um local de trabalho inadequado, outras investem em melhorias e colhem bons resultados. Um exemplo dessas iniciativas bem sucedidas foi o projeto de atualização das agências desenvolvido pela Caixa Econômica Federal (CEF) em todo o país a partir de 1996. Além da padronização visual das lojas, mudanças para melhorar as condições de trabalho foram recomendadas por uma avaliação ergonômica.

Uma das principais modificações foi a troca do mobiliário dos guichês dos caixas. Os antigos móveis, com pesadas gavetas sob as mesas e a parte frontal elevada, que obrigavam o funcionário a erguer os braços acima da altura dos ombros ou ficar em pé durante o atendimento, foram aposentados. Em seu lugar, estão mesas mais baixas, com uma abertura para passagem de papéis na altura das mãos do funcionário. Com formato em L, o posto de trabalho é dotado de uma gaveta lateral, possibilitando ao funcionário fazer todo o atendimento sentado. Leitoras ópticas também reduziram o volume de dados a serem digitados pelos operadores.

Os resultados não tardaram a aparecer. Os índices de incidência de LER/Dort da CEF em nível nacional caíram de 3% para menos de 1,5% sobre o total de funcionários.

Prevenção

Algumas dicas para reduzir a probabilidade de surgimento de doenças relacionadas ao ambiente e à rotina de trabalho:

Para os trabalhadores

Evitar sobrecarga dos movimentos
Realizar movimentos de forma ergonômica e eficiente, mantendo a postura correta no posto de trabalho
Fazer pausas com alongamentos e evitar horas extras.
Facilitar o relato precoce de lesões ou queixas de dor.
Evitar o esforço estático e a tensão muscular resultante do estresse mental
Comunicar às chefias os problemas que estão ocorrendo na sua rotina de trabalho
Estudar a mudança de função ou atividade caso a insatisfação pessoal com seu trabalho lhe traga sofrimento

Para as empresas

Tentar impedir aumentos súbitos no ritmo de trabalho
Evitar que as tarefas ultrapassem a capacidade dos funcionários
Treinar os funcionários a realizar as tarefas de forma ergonomicamente correta
Realizar análises ergonômicas e implementar melhorias na rotina de execução das tarefas e dos postos de trabalho
Formar comitês de pessoal com formação em ergonomia capacitados para a implementação de mudanças na empresa
Procurar saber os motivos de insatisfações e problemas apresentados pelos empregados
Demonstrar abertura para que empregados insatisfeitos com sua atividade possam experimentar uma troca de função

Fontes: consultora de ergonomia Rosane Kortz e psiquiatra Patrícia Picon

Fonte:Zero Hora/ RS 28-04-01

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