10/07/2005 – L.E.R. – LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS – NEURO.MED

10/07/2005 – L.E.R. – LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS – NEURO.MED

O que é LER ?

L.E.R. representa uma síndrome de dor nos membros superiores, com queixa de grande incapacidade funcional, causada primariamente pelo próprio uso das extremidades superiores em tarefas que envolvem movimentos repetitivos ou posturas forçadas. Também é conhecido por L.T.C. (Lesão por Trauma Cumulativo) e por D.O.R.T. (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), mas na realidade entre todos estes nomes talvez o mais correto tecnicamente seria o de Síndrome da Dor Regional. Contudo, como o nome LER se tornou comum e até popular, esta é a denominação adotada no Brasil, apesar de bastante imprópria, pois relaciona sempre tais manifestações com certas atividades no trabalho. Portanto, LER não é uma doença, é um fenômeno social/político/trabalhista. O diagnóstico diferencial deve excluir as tendinites e tenossinovites secundárias a outras patologias, como reumatismo, esclerose sistêmica, gota, infecções gonocócicas, traumática, gravidez, osteoartrite, diabetes, mixedema, etc.

As lesões inflamatórias causadas por esforços repetitivos já eram conhecidos desde a antiguidade sob outros nomes, como por exemplo, na Idade Média, a “Doença dos Escribas”, que nada mais era do que uma tenossinovite, praticamente desaparecendo com a invenção da imprensa. Já em 1891, De Quervain descrevia o “Entorse das Lavadeiras”.

Classificação

As classificações mais usuais são feitas conforme a evolução e o prognóstico, classificaando a “LER” baseando apenas em sinais e sintomas. Classificações:

Fase 1 – Apenas queixas maldefinidas e subjetivas, melhorando com repouso.

Fase 2 – Dor regredindo com repouso, apresentando poucos sinais objetivos.

Fase 3 – Exuberância de sinais objetivos, e não desaparecendo com repouso.

Fase 4 – Estado doloroso intenso com incapacidade funcional (não necessariamente permanente)

Em 1984, a classificação de Browe, Nolan e Faithfull divide a LER em estágios:

Estágio 1 – Dor e cansaço nos membros superiores durante o turno de trabalho, com melhora nos fins de semana, sem alterações no exame físico e com desempenho normal.

Estágio 2 – Dores recorrentes, sensação de cansaço persistente e distúrbio do sono, com incapacidade para o trabalho repetitivo.

Estágio 3 – Sensação de dor, fadiga e fraqueza persistentes, mesmo com repouso. Distúrbios do sono e presença de sinais objetivos ao exame físico.

Dennet e Fry, em 1988, classificaram a doença, de acordo com a localização e fatores agravantes:

Grau 1 – Dor localizada em uma região, durante a realização da atividade causadora do síndrome. Sensação de peso e desconforto no membro afetado. Dor espontânea localizada nos membros superiores ou cintura escapular, às vezes com pontadas que aparecem em caráter ocasional durante a jornada de trabalho e não interferem na produtividade. Não há uma irradiação nítida. Melhora com o repouso. É em geral leve e fugaz, e os sinais clínicos estão ausentes. A dor pode se manifestar durante o exame clínico, quando comprimida a massa muscular envolvida. Tem bom prognóstico.

Grau 2 – Dor em vários locais durante a realização da atividade causadora da síndrome. A dor é mais persistente e intensa e aparece durante a jornada de trabalho de modo intermitente. É tolerável e permite o desempenho da atividade profissional, mas já com reconhecida redução da produtividade nos períodos de exacerbação. A dor torna-se mais localizada e pode estar acompanhada de formigamento e calor, além de leves distúrbios de sensibilidade. Pode haver uma irradiação definida. A recuperação é mais demorada mesmo com o repouso e a dor pode aparecer, ocasionalmente, quando fora do trabalho durante outras atividades. Os sinais, de modo geral, continuam ausentes. Pode ser observado, por vezes, pequena nodulação acompanhando bainha de tendões envolvidos. A palpação da massa muscular pode revelar hipertonia e dolorimento. Prognóstico favorável.

Grau 3 – Dor desencadeada em outras atividades da mão e sensibilidade das estruturas; pode aparecer dor em repouso ou perda de função muscular; a dor torna-se mais persistente, é mais forte e tem irradiação mais definida. O repouso em geral só atenua a intensidade da dor, nem sempre fazendo-a desaparecer por completo, persistindo o dolorimento. Há frequentes paroxismos dolorosos mesmo fora do trabalho, especialmente à noite. É frequente a perda de força muscular e parestesias. Há sensível queda da produtividade, quando não impossibilidade de executar a função. Os sinais clínicos estão presentes, sendo o edema frequente e recorrente; a hipertonia muscular é constante, as alterações de sensibilidade estão quase sempre presentes, especialmente nos paroxismos dolorosos e acompanhadas de manifestações como palidez, hiperemia e sudorese das mãos. A mobilização ou palpação do grupo muscular acometido provoca dor forte. Nos quadros com comprometimento neurológico compressivo a eletromiografia pode estar alterada. Nessa etapa o retorno à atividade produtiva é problemático.

Grau 4 – Dor presente em qualquer movimento da mão, dor após atividade com um mínimo de movimento, dor em repouso e à noite, aumento da sensibilidade, perda de função motora. Dor intensa, contínua, por vezes insuportável, levando o paciente a intenso sofrimento. Os movimentos acentuam consideravelmente a dor, que em geral se estende a todo o membro afetado. Os paroxismos de dor ocorrem mesmo quando o membro está imobilizado. A perda de força e a perda de controle dos movimentos se fazem constantes. O edema é persistente e podem aparecer deformidades, provavelmente por processos fibróticos, redizindo também o retorno linfático. As atrofias, principalmente dos dedos, são comuns. A capacidade de trabalho é anulada e os atos da vida diária são também altamente prejudicados. Nessse estágio são comuns as alterações psicológicas com quadros de depressão, ansiedade e angústia.

Quais as doenças que podem ser desencadeadas ou agravadas por esforço repetitivo ?

Cisto sinovial
Contratura de Dupuytren
Fibromiosite ou fibrosite
Bursite
Síndrome do Túnel do Carpo
Síndrome de Quervain
Síndrome do Canal de Guyon
Tenossinovite
Epicondilite
Síndrome do pronador redondo
Síndrome do desfiladeiro torácico
Mialgia tensional
Dedo em gatilho
Síndrome do impacto ou do arco doloroso
Tendinite da cabeça longa do bíceps
Outras **

** Evidentemente qualquer lesão osteoarticular, até mesmo fraturas (fraturas de estresse) podem ser causadas por um esforço exagerado ou repetitivo e, por este motivo, existe uma enborme variação de possíveis LER. Na realidade, portanto, a “LER” é apenas um novo e errado nome para velhas doenças.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *