Estudos refletem carência de dados e políticas públicas relacionados a doenças infecciosas e exposição a agrotóxicos

Estudos refletem carência de dados e políticas públicas relacionados a doenças infecciosas e exposição a agrotóxicos

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Publicado em 07/02/2025

Publicações da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO) colocam foco na prevalência de arboviroses em trabalhadores da saúde e na exposição a agrotóxicos de trabalhadores não agropecuários. Entre os pontos destacados, mencionam a importância de melhorar a integração de bases de dados ocupacionais e toxicológicas e aprimorar políticas públicas e de vigilância e prevenção em grupos específicos de trabalhadores.

Doenças infecciosas e a vigilância em saúde dos trabalhadores

A alta prevalência de arboviroses em trabalhadores da saúde de município da Bahia destaca urgência na melhoraria de ações de vigilância, medidas de prevenção e monitoramento de doenças infecciosas nesse ambiente de trabalho. É o que aponta o artigo Elevada prevalência de doenças infecciosas entre trabalhadores da saúde indica a necessidade de melhorar a vigilância, que também apresenta sugestões de melhorias de vigilância e prevenção. Realizado em 2019, o estudo identificou que quase 35% dos 424 dos agentes testaram positivo para dengue e quase 40% para flavivírus (zika e dengue). Outros vírus também foram encontrados, como chikungunya, hepatite B e sífilis, mas as arboviroses foram mais frequentes, inclusive aumentando com a idade e sendo maior entre agentes de combate a endemias.

Entre os diversos aspectos destacados está a falta de consciência de alguns profissionais infectados acerca de sua condição até o momento da testagem. A elevada incidência de arboviroses entre os trabalhadores da saúde pertencentes a categorias normalmente vistas como de baixo risco, como os que não têm contato direto com pacientes infectados ou com material biológico, é outro achado. A pesquisa relata ainda escassez de dados sobre doenças infecciosas entre trabalhadores da saúde, com dados subestimados devido ao raro registro da relação da doença com o trabalho. Essa realidade reflete a falha nos programas de controle do Aedes aegypti no país, segundo o artigo. ​

Apesar dos achados, o artigo questiona se o risco ambiental pode ser não relacionado ao trabalho, considerando que os entrevistados residem na comunidade onde trabalham, entre outras correlações passíveis de existirem. Desse modo, existe a possibilidade de o risco ambiental ser semelhante ao da população em geral.

Atividades econômicas não agropecuárias expostas a agrotóxicos ​

Um dos maiores consumidores de agrotóxicos, o Brasil teve aumento significativo nas notificações de intoxicações agudas entre 2007 e 2015. No entanto, além dos trabalhadores rurais, há outros, no meio urbano, também sujeitos a exposição a esses produtos químicos. Os dados são do artigo Atividades econômicas relacionadas aos agrotóxicos e ao trabalho: para além da agropecuária. A partir da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) 2.0 e da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), o estudo mapeou seis classes de atividades não agropecuárias com potencial de exposição a essas substâncias.

As atividades incluem fabricação de defensivos agrícolas, desinfetantes de uso domiciliar, medicamentos veterinários, controle de pragas urbanas, atividades paisagísticas e regulação de atividades de saúde e serviços sociais. Apesar disso, esses trabalhadores são negligenciados pelas atuais políticas públicas relativas a agrotóxicos, que focam na agropecuária, impactando a vigilância e a prevenção de doenças relacionadas à exposição a esses produtos químicos.

Além de aprimorar as políticas relativas a agrotóxicos, o estudo destaca a importância de melhor integração entre as bases de dados ocupacionais e toxicológicas, como CNAE 2.0 e CBO. Isso também contribuiria para a melhoria da saúde e segurança dos trabalhadores expostos a agrotóxicos em diversos setores econômicos.

Fonte: FUNDACENTRO

Dra. Célia Wada – CRF SP 7043  /  CRF RJ 34658

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