SAÚDE E SEGURANÇA OCUPACIONAL: O QUE DEVE MUDAR NO PENSAMENTO DOS EMPRESÁRIOS BRASILEIROS
Aumentar os lucros investindo em segurança ocupacional/ ergonomia
O que a Globalização nos ensina
De acordo com a OIT (Organização Internacional do Trabalho) as doenças e os acidentes relacionados ao trabalho matam anualmente 1,1 milhão de pessoas em todo o mundo. Neste número estão incluídos cerca de 300 mil óbitos decorrentes de 250 milhões de acidentes de trabalho, além de mortes por doenças ocupacionais diversas. Ainda segundo a mesma fonte, o custo das doenças e dos acidentes de trabalho chegam a cerca de quatro por cento da produção mundial.
Nos Estados Unidos e outros países do chamado primeiro mundo, o foco da gestão empresarial é moldado em custos e retorno sobre os investimentos, o que leva as autoridades, empresários, associações e sindicatos a trabalharem pela redução das doenças e acidentes de trabalho com este objetivo. Como conseqüência, persegue-se a diminuição do número de incidentes e acidentes. Sabemos que, quando se trata de reduzir custos, todos acordam e começam a fazer alguma coisa.
No nosso país, grande parte do empresariado ainda peca na tentativa de baixar os custos justamente naquilo que deveria se investir mais, como na prevenção, programas de diminuição de doenças ocupacionais, uso de EPI´s eficientes e postos de trabalho ergonômicos, a fim de aumentar ……. justamente os seus lucros!
Nos Estados Unidos “segurança ocupacional” é tratado como um investimento qualquer e como tal devem ser calculados o retorno do mesmo!. Os acionistas estão conscientes de que a segurança no trabalho deve ser tratada como um assunto tão importante quanto a alimentação de seus colaboradores, por exemplo.
Ao invés de procurar cumprir ou burlar a lei, deveríamos nos preocupar com custos direcionados ao investimento, a fim de nos prepararmos melhor para a competição globalizada.
As condições de vida fora do ambiente de trabalho também devem ser levadas em conta e os resultados para os brasileiros podem ser gratificantes tanto quanto foram para os americanos. A grande maioria de nossos trabalhadores mora mal, depende de um transporte coletivo péssimo, não tem atividades de lazer e ainda são, constantemente, obrigados a realizarem a manutenção ou construção de suas casas sem as comodidades de seus irmãos do hemisfério norte.
Ao investir em condições de maior conforto (no sentido ergonômico) do posto de trabalho, em treinamento para prevenção de doenças e lesões ocupacionais, a empresa ganhará com o aumento da produtividade, com certeza.
A melhoria do ambiente de trabalho pode proporcionar a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores além dos muros das empresas. Conclusão: todos saem ganhando, até mesmo o Governo, pois a Previdência deixará de arcar com grandes valores em indenizações (apesar de oferecer tão poucos benefícios individuais!).
ERGONOMIA
Muito se tem falado em ergonomia e conforto no trabalho, doenças musculoesqueléticas oriundas ou não de tarefas repetitivas no computador. O que poucos sabem é que, apostando na ergonomia de maneira séria e profissional, estaremos contribuindo para a diminuição de custos de produção, dentre outros. A redução do absenteísmo parcial ou total, da “perda” de profissionais treinados pela empresa (onde se investiu recursos em treinamentos específicos da sua profissão); de indenizações cíveis muitas vezes milionárias, além do aumento da produtividade e eficácia do posto ou unidade de trabalho, são algumas das vantagens para aqueles que investem na ergonomia.
Já imaginaram como é a produtividade / percepção dos operadores de máquinas, manobristas de empilhadeira, digitadores, motoristas, dentre outros, quando são submetidos à rotina de trabalho de oito horas por dia, todas as semanas?
Já imaginaram a coluna vertebral de um profissional de segurança patrimonial, que precisa estar alerta a todo instante, em posição, sempre de pé, após 4 horas de trabalho, na maioria das vezes com uma carga adicional (arma de fogo) de um só lado ? Já imaginaram a coluna vertebral e o stress de um segurança patrimonial que circula em caminhões e carros, muitas vezes em ambientes fechados, sobre nossas ruas e estradas totalmente desniveladas e esburacadas ? Já contaram quantas vezes, por hora, as vértebras ficam na vai e vem ? Idem para os nossos caminhoneiros e motoristas de vans?
O movimento de vai e vem nas vértebras, má postura em pé e sentado, provoca fadiga e perda de percepção e, conseqüentemente, retarda sua ação, facilita outros acidentes e diminui a eficácia como um todo.
No caso das lesões dos membros superiores (Tendinites tipo LER / DORT), a seqüência é a mesma das lombalgias e lesões da coluna.
Doenças Músculo-esqueléticas só podem ser enfrentadas com muita prevenção e ergonomia. Seu investimento dá….lucro!!
Todas as pessoas deveriam conhecer o mínimo necessário de regras para se levantar um peso. Uma carga de meio quilograma pode provocar uma lesão na coluna. Já ensinava nosso amigo Arquimedes que através da alavanca ele poderia até pensar em levantar o mundo. Pois uma carga, uma força longe de seu corpo, provoca um momento nas vértebras lombares cujo módulo é a multiplicação da força (o peso) pelo comprimento dos braços mais a altura dos ombros até a região lombar, pois é esta que vai suportar o esforço.
Na média da população mundial a relação é de 1 para 10. Assim um pesinho de 1 quilo, pode provocar um esforço na coluna lombar de 10 quilos.
Quem já não enfrentou em casa, no seu lazer, até no seu barco situações de levantamento de peso (pequeno) com duras conseqüências? E os nossos empregados? E aqueles que precisam carregar e manusear cargas todos os dias?
A ergonomia nos ensina buscar soluções de qualquer atividade (principalmente o trabalho) com menos esforço. Nosso país não pode de uma hora para outra mudar tudo e introduzir acessórios e produtos caríssimos. Mas pode e deve levar às suas empresas técnicas simples de boa postura, como levantar uma carga corretamente, alguns outros conselhos simples que certamente farão uma grande diferença. Alem disso, não basta trocar a cadeira, a mesa, colocar um apoio para os pés e pronto!
É preciso ERGONOMIA DE CONSCIENTIZAÇÃO, isto é, como tirar o máximo dos novos produtos, com boa postura, técnicas ergonômicas, exercícios físicos, etc.
Lembrete: A Globalização nos ensina:
-Precisamos conhecer os dados e informações de outros Países
-Esclarecer de uma vez por todas a diferença entre Investimento X Custo
-A Ergonomia é sinônimo de aumento de produtividade e eficácia
-E precisamos saber como calcular os resultados…
Osny Telles Orselli
Osny Telles Orselli – é engenheiro mecânico e de segurança do Trabalho, é administrador de empresas; é membro da American Society of Safety Engineers (USA), do National Safety Council-EUA, do Human Factors and Ergonomics Society e diretor técnico da MUNDO ERGONOMIA S Paulo ( www.mundoergonomia.com.br )