Fundacentro tem sua primeira patente reconhecida – INOVAÇÃO CHEGA A REDUZIR EM ATÉ 70% AFASTAMENTOS DE POSTOS DE TRABALHOS DA COSTURA
O dia 8 de março ficará marcado na história da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro). Não é só pelo Dia Internacional das Mulheres, é que pela primeira vez a entidade teve um pedido de patente concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A concessão vale pelo registro de Desenho Industrial pela criação de mesa auxiliar para apoio de membros superiores para ser integrada as mesas de trabalho de costura industrial.
O presidente da entidade, Eduardo Azeredo Costa, comemorou a novidade, pois segunda ele, isso é um marco na história da Fundacentro já que é a primeira patente reconhecida pela entidade. Ele diz que desde 1993, o aspecto de inovação tecnológica ganhou importância na entidade. “O quadro de funcionários da Fundacentro passou a estar enquadrado em ciência e tecnologia e como tal precisa estar ajustado aos parâmetros do setor”, afirma. Segundo ele, alguns técnicos da Fundacentro estavam fazendo atividades de inovação tecnológica sem que a instituição estimulasse ou estivesse as instâncias necessárias para isso. “Por isso a importância dessa nova patente. O resultado de uma nova política que tenta valorizar o esforço pela inovação tecnológica na Fundacentro”, revela.
O presidente da Fundacentro lembra que toda inovação tem um fundo prático. “Essa é muito interessante porque pode proporcionar melhoria nas condições de trabalho e é resultado de uma política que vem sendo implantada na Fundacentro”, diz. Ele acrescenta ainda que a entidade não tem ainda toda a estrutura adequada montada, mas é questão de tempo. “É política do governo brasileiro valorizar a inovação e, no caso da Fundacentro, ela é importante para a redução do número de acidentes no trabalho”, diz.
Ricardo da Costa Serrano, tecnologista e ergonomista da Fundacentro e que trabalha com ergonomia há 30 anos, foi o responsável pelo desenvolvimento do design do protótipo concedido pelo INPI. “Foi um trabalho de equipe em que os trabalhadores opinavam sobre o protótipo e apontavam mudanças necessárias que deixavam o desenho mais confortável e adequado às suas necessidades”, disse. Ele conta que foi um trabalho desenvolvido totalmente junto com os trabalhadores dentro das fábricas. “Foi um trabalho prático de observação, teste, validação, conversa com o trabalhador e ajuste”, descreve.
O primeiro passo foi dado. Serano lembra que apesar do avanço que se verifica no setor calçadista, o maquinário, apesar de ter avançado em alguns pontos, é ultrapassado em outros, como por exemplo, o pedal.
O CAMINHO
Durante a I Bienal da Fundacentro que aconteceu em março de 2011, foram apresentados alguns protótipos desenvolvidos pela entidade. Durante o evento foi instalada uma oficina de costura industrial, de vestuário e calçado, com costureiras trabalhando em móveis tradicionais, em uso no setor; e novos postos de trabalho com móveis e acessórios de design econômico.
Esse trabalho foi iniciado a pedido do Sindicato das Costureiras de Birigui, em 2003, devido ao elevado número de casos de afastamento de trabalhadores dos postos de trabalho em razão de lesões na coluna vertebral. As principais queixas estavam ligadas à dimensão, à altura e ao apoio das cadeiras.
A cidade de Birigui, do interior de São Paulo, possui hoje 210 empresas que fabricam calçados infantis, responsável pela mão de obra efetiva de 19 mil trabalhadores.
Depois de várias visitas a empresas deste segmento no interior do estado de São Paulo, Ricardo da Costa Serrano observou outros problemas nas estações de trabalho: iluminação inadequada, tampo sem apoio para os membros superiores, pedal fixo de acionamento do motor, superfície do tampo refletiva, polias e correias sem proteção. Ele conta que ao entrar na fábrica para testar com os trabalhadores o protótipo pôde reconhecer outras situações de risco a que os trabalhadores estavam expostos. Em 2008, após vários estudos, Serrano propôs inicialmente a simples troca das cadeiras para outras com ajustes ergonômicos, que trariam benefícios para o trabalhador. Em função dessa modificação, a produção anual das empresas envolvidas cresceu de 53 milhões de pares de sapatos para 64 milhões, com o mesmo número de funcionários. “Eram necessários mais ajustes”, complementa Serrano.
Após a obtenção dos resultados com a troca da cadeira, a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias Têxtil, Vestuário, do Couro e do Calçado (Conaccovest) resolveu financiar o desenvolvimento de novas criações nas estações de trabalho realizando um estudo detalhado em nível nacional.
O tecnologista da Fundacentro e representantes sindicais visitaram mais de 22 empresas por todo Brasil, onde observaram outros problemas que poderiam ser melhorados. Os protótipos com aas modificações foram integrados a uma estação de trabalho onde as costureiras pudessem testar e certificar essas modificações. Constatou-se que essas inovações tecnológicas reduziram AM até 70% o afastamento do trabalhador por lesões causadas pelo ofício.
O INPI concedeu a primeira patente de design industrial para a mesa auxiliar. Em parceria com a Conaccovest, a Fundacentro pediu o reconhecimento das patentes de mais três alterações: o sobretampo regulável, o dispositivo de iluminação para máquinas de costura e o pedal móvel. A documentação relativa a essa alterações já foi enviada ao INPI e aguarda decisão do órgão.
O pedido de reconhecimento da patente destina-se a evitar eventuais imitações grosseiras que não permitam efetivamente o conforto necessário. “A idéia é que possamos compartilhar essa inovação com alguma indústria moveleira nacional.
A Conaccovest está expondo o protótipo pelo Brasil afora para todos os sindicatos pleitarem junto às empresas esse tipo de móvel”, completa Costa.
PRÓXIMO PASSO
Agora que a patente foi concedida, o próximo passo será a produção para o mercado. Segundo o presidente da Fundacentro, existe mercado porque existem alguns pontos favoráveis ao tema. Eduardo Azeredo destaca a participação do sindicato dos trabalhadores. “Eles confinanciaram esse protótipo, é do interesse comum do estado brasileiro que o uso dessa tecnologia seja ampliado. Estima-se que sejam 2 milhões de trabalhadores nesse setor. Cerca de 1 milhão de mesas precisariam ser trocadas, o mercado é grande”, elenca Azeredo. Ele lembra ser importante mostrar que essas adaptações, na verdade, não representam um custo. “É preciso fazer a estimativa de quanto seria a troca do mobiliário, mas já sabemos que essa troca traz benefícios tanto aos trabalhadores quanto às empresas que podem aumentar sua produção como aconteceu em Birigui sem a necessidade de contratar novos funcionários”.
Um mobiliário inadequado causa muitos problemas de saúde às as costureiras, como dores na coluna lombar e região cervical (músculo trapézio), contração estática da musculatura paravertebral (costas e ombros) e dores difusas pelo corpo nos membros inferiores e superiores.
Fonte: Revista CIPA